Se você trabalha em escola, com educação infantil ou fundamental, ou até mesmo está pensando em abordar o tema com crianças, adolescentes ou jovens, é essencial entender o que representa o Dia dos Povos Indígenas, por que ele foi criado e como ensinar sobre ele sem cair em estereótipos ou ideias distorcidas. Este artigo traz tudo isso de forma clara, prática e humanizada, com foco em celebrações educativas e respeitosas dentro do ambiente escolar.

Quando é comemorado o Dia dos Povos Indígenas?

O Dia dos Povos Indígenas é celebrado no dia 19 de abril, em todo o território brasileiro. Até pouco tempo, essa data era conhecida como “Dia do Índio”, mas isso mudou oficialmente em 2022, com a aprovação da Lei nº 14.402.

A mudança não foi apenas simbólica. Ela carrega um reconhecimento maior da diversidade, da história e da luta dos povos indígenas do Brasil. A palavra “índio” é considerada reducionista e genérica, já que existem centenas de etnias diferentes no país, com línguas, culturas, tradições e formas de viver únicas.

Por que é importante trabalhar essa data na escola?

Educar sobre os povos indígenas vai muito além de pintar o rosto ou usar cocar de papel. A escola é um espaço fundamental para desconstruir preconceitos e mostrar a verdadeira contribuição dos povos originários na formação do Brasil.

Além disso, o ensino sobre os povos indígenas é um direito previsto na Lei nº 11.645/2008, que torna obrigatório o estudo da história e cultura indígena em todas as escolas públicas e privadas do país.

Celebrar essa data com atividades bem pensadas é uma forma de:

  • Valorizar a identidade e diversidade cultural dos povos indígenas
  • Ensinar respeito e empatia desde cedo
  • Combater o racismo e os estereótipos
  • Incentivar a curiosidade e o pensamento crítico nos alunos

Como falar sobre os povos indígenas de forma correta?

Antes de pensar nas atividades práticas, é importante alinhar o discurso. Professores e educadores precisam estar atentos para não repetir ideias antigas e preconceituosas, como:

  • Achar que todos os indígenas vivem na floresta
  • Falar como se fossem “um povo do passado”
  • Representar de forma folclórica ou caricata

Os povos indígenas estão presentes em todos os estados brasileiros, vivem tanto em aldeias quanto em áreas urbanas, e participam ativamente da política, da economia e da produção cultural. Eles são atuais, plurais e diversos.

Dicas para falar corretamente:

  • Use sempre o termo povos indígenas, no plural
  • Fale sobre as etnias específicas, como Guarani, Tikuna, Yanomami, Pataxó, entre outras
  • Destaque a resistência, a luta por território e a preservação ambiental

  • Evite tratar como “coitadinhos” ou “exóticos”

Atividades educativas para o Dia dos Povos Indígenas

Existem várias formas criativas, informativas e respeitosas de abordar essa data nas salas de aula. Veja ideias divididas por faixa etária e objetivo pedagógico:

Educação Infantil (até 6 anos)

  • Contação de histórias indígenas: usar livros com narrativas escritas por autores indígenas
  • Roda de conversa com músicas tradicionais (sem estereótipos)
  • Brincadeiras indígenas, como peteca, corrida com toras, jogo de arco e flecha (versões adaptadas)
  • Artes visuais inspiradas em grafismos indígenas, respeitando o significado simbólico

Ensino Fundamental

  • Mapas e geografia dos povos indígenas do Brasil

  • Atividades com palavras em línguas indígenas, como Tupi-Guarani
  • Criação de jornais ou murais temáticos

  • Produção de vídeos ou podcasts com entrevistas sobre a importância da cultura indígena

Ensino Médio

  • Debates sobre demarcação de terras e direitos indígenas

  • Exibição de documentários com análise crítica

  • Projetos interdisciplinares envolvendo sociologia, história, biologia e geografia

  • Convidar indígenas para rodas de conversa com os alunos

Livros e materiais feitos por indígenas

Uma ótima forma de combater o apagamento cultural é utilizar materiais produzidos por indígenas. Existem escritores, ilustradores e professores indígenas que compartilham suas vivências em obras riquíssimas.

Veja alguns nomes para explorar em sala:

  • Daniel Munduruku – autor de dezenas de livros sobre identidade, ancestralidade e história
  • Eliane Potiguara – escritora, ativista e fundadora da Rede Grumin de Mulheres Indígenas
  • Ailton Krenak – pensador e autor da famosa obra “Ideias para adiar o fim do mundo”

Utilizar essas vozes reais mostra que a cultura indígena é viva, inteligente, moderna e importante.

Evite essas práticas nas comemorações escolares

É comum ver escolas bem intencionadas que acabam reforçando estereótipos. Por isso, é bom ficar atento ao que NÃO fazer:

  • Não pintar o rosto de crianças como se todas as etnias usassem pinturas iguais
  • Não usar cocares genéricos sem explicar sua origem e importância
  • Não chamar as crianças de “índios” como se fosse fantasia
  • Não resumir tudo a canções antigas sem contexto ou origem

Essas práticas passam uma imagem rasa, folclórica e muitas vezes ofensiva, mesmo sem intenção. Prefira celebrar com conhecimento, participação e respeito.

Como envolver a comunidade escolar?

O Dia dos Povos Indígenas também pode ser um momento de mobilização maior na escola, com participação dos pais, da direção e até da comunidade do bairro. Algumas ideias são:

  • Organizar uma feira cultural indígena

  • Fazer uma exposição com trabalhos dos alunos

  • Criar painéis interativos com informações das etnias brasileiras

  • Montar um museu temporário com objetos, livros e vídeos

Se possível, convidar representantes indígenas da região para falar com os alunos, cantar músicas tradicionais, mostrar danças e contar histórias reais. O contato direto promove empatia e transforma a visão das crianças.

Celebrar é também refletir

Mais do que fazer uma homenagem, o Dia dos Povos Indígenas é uma data de luta e consciência. É um momento para refletir sobre:

  • A ocupação histórica do Brasil e o apagamento dos povos originários
  • O preconceito ainda presente em muitas falas e atitudes
  • A importância da demarcação de terras e da preservação ambiental
  • O papel da escola como espaço de resistência e formação cidadã

Ensinar tudo isso desde cedo forma alunos mais críticos, empáticos e conscientes.

Celebrar o Dia dos Povos Indígenas nas escolas não é apenas uma ação pedagógica, é uma postura de respeito, justiça e reconhecimento histórico. Quando a escola abandona as fantasias vazias e se aproxima da realidade, ela cumpre seu papel mais bonito: formar seres humanos conscientes, solidários e preparados para um mundo plural.

Mais do que ensinar sobre os povos indígenas, é hora de ensinar com os povos indígenas. De dar voz, vez e protagonismo a quem construiu – e continua construindo – a história do nosso país.

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