Existe uma prática silenciosa, cruel e muitas vezes banalizada que afeta especialmente mulheres no mundo todo: o slut shaming. O termo, traduzido do inglês, significa algo como “envergonhar por ser vadia”, mas seu significado vai muito além de uma simples ofensa. É um comportamento social profundamente enraizado que envolve julgar, criticar e humilhar alguém com base na sua vida sexual, no modo como se veste ou até por demonstrar autoconfiança no próprio corpo.

Esse tipo de atitude pode vir de pessoas próximas ou até de desconhecidos nas redes sociais. Pode ser direta ou disfarçada, mascarada de “conselho”, “opinião” ou “preocupação”. Mas no fim, sempre tem o mesmo objetivo: controlar e punir mulheres por expressarem sua liberdade sexual ou por não seguirem um padrão de comportamento esperado.

Neste artigo, vamos mergulhar a fundo no conceito de slut shaming, mostrar exemplos reais, explicar os danos que isso pode causar na vida de quem sofre esse tipo de ataque e, o mais importante, como desconstruir esse comportamento nocivo de uma vez por todas.

O que realmente significa slut shaming?

Slut shaming é o ato de envergonhar alguém por sua sexualidade real ou percebida.

Pode acontecer de várias formas:

  • Criticar uma mulher por usar roupas curtas
  • Insinuar que ela “pede” atenção masculina
  • Chamar de “fácil” ou “promíscua”
  • Julgar número de parceiros(as)
  • Dizer que ela “não se valoriza”

Ou seja, não é só um xingamento. É uma forma de violência psicológica, uma tentativa de reprimir a autonomia feminina sobre o próprio corpo e seus desejos.

Mesmo que pareça uma piada ou um comentário solto, a raiz do slut shaming está no machismo estrutural. É o mesmo pensamento que coloca a mulher em um pedestal de “santa” ou “puta”, como se só existissem esses dois papéis disponíveis.

Por que o slut shaming acontece?

Esse comportamento vem de uma cultura que:

  • Controla o corpo feminino 
  • Cria padrões morais rígidos 
  • Associa o valor da mulher à pureza sexual 
  • Estimula a competição entre mulheres 

Desde pequenas, meninas são ensinadas a “se dar ao respeito”, enquanto meninos são incentivados a explorar a sexualidade. Isso cria uma ideia distorcida de que o desejo feminino precisa ser contido, reprimido e monitorado.

Além disso, a sociedade cobra posturas contraditórias. A mulher tem que ser sexy, mas não pode parecer “vulgar”. Tem que se cuidar, mas não se exibir. E quando ela escolhe romper essas expectativas, vem o julgamento.

Exemplos de slut shaming no dia a dia

É comum achar que slut shaming acontece só em casos extremos, mas ele está presente em falas corriqueiras e atitudes sutis. Veja alguns exemplos:

Comentários em redes sociais:

  • “Com essa roupa, ela tá pedindo, né?”
  • “Depois não sabe por que foi traída”
  • “Não é à toa que não arranja um namorado sério”

No ambiente de trabalho:

  • “Ela só conseguiu promoção porque é bonita”
  • “Tá sempre maquiada e com decote, deve estar querendo atenção”

Dentro da família:

  • “Vai sair assim? Tá parecendo uma vagabunda”
  • “Se respeita, menina!”

Em rodas de amigos:

  • “Fulana pega todo mundo, que vergonha”
  • “Não me relaciono com mulher rodada”

Percebe como são falas naturalizadas? Muitas vezes nem quem diz entende a gravidade. Mas quem ouve carrega aquela dor por muito tempo.

Quem pratica slut shaming?

Engana-se quem pensa que só homens fazem isso. Muitas mulheres também reproduzem esse comportamento, muitas vezes sem perceber, por terem sido educadas sob os mesmos padrões.

O slut shaming pode vir de:

  • Homens machistas, que sentem ameaçados por mulheres livres
  • Mulheres conservadoras, que acreditam no ideal de pureza feminina
  • Pessoas religiosas, que impõem regras de conduta moral
  • Amigos ou familiares, mesmo sem intenção de ferir

O mais triste é que o julgamento costuma ser mais pesado quando a mulher é negra, pobre, gorda ou LGBTQIA+, pois o preconceito se mistura com racismo, gordofobia e outras formas de opressão.

Os danos do slut shaming na vida de uma pessoa

O impacto do slut shaming pode ser devastador, principalmente na adolescência e juventude, quando a identidade ainda está sendo construída. Entre os efeitos mais comuns estão:

  • Baixa autoestima 
  • Depressão e ansiedade 
  • Vergonha do próprio corpo 
  • Medo de se relacionar 
  • Isolamento social 
  • Culpa por ter desejos naturais 

Em casos extremos, já houve relatos de suicídio após exposição pública, bullying ou vazamento de nudes. O slut shaming também é usado como desculpa para justificar abusos, como se a vítima tivesse “provocado”.

Slut shaming x liberdade sexual

É importante reforçar que não há nada de errado em sentir prazer, em querer explorar a própria sexualidade ou se vestir como quiser. O problema está em como a sociedade reage a isso.

A liberdade sexual significa:

  • Ter relações quando quiser (ou não ter)
  • Escolher seus parceiros com autonomia
  • Usar o que quiser sem medo de ser julgada
  • Se expressar com orgulho do próprio corpo

Combater o slut shaming é defender o direito das mulheres de existirem como são, sem pedir desculpas por isso.

Como combater o slut shaming

Não basta não praticar. É preciso enfrentar esse tipo de atitude no cotidiano, especialmente quando ela surge de forma disfarçada. Veja algumas ações que ajudam a mudar esse cenário:

1. Chame a atenção para comentários problemáticos

  • “Você já pensou como isso pode machucar?”
  • “Ela não merece ser julgada por isso”
  • “O que ela faz com o corpo dela não é da sua conta”

2. Apoie quem sofre slut shaming

  • Não julgue ou dê sermão
  • Ouça com empatia
  • Valide os sentimentos da pessoa

3. Reflita sobre seus próprios preconceitos

  • Questione ideias que você aprendeu
  • Não repita frases machistas sem pensar
  • Aprenda sobre o feminismo e igualdade de gênero

4. Eduque as próximas gerações

  • Converse com crianças e adolescentes
  • Ensine sobre respeito, consentimento e diversidade
  • Mostre que o valor de uma pessoa não está no corpo, e sim no caráter 

O papel da mídia e das redes sociais

A mídia ainda reforça muitos estereótipos relacionados ao slut shaming. Celebridades são constantemente alvo de críticas por suas roupas, relacionamentos ou postagens mais ousadas. E isso alimenta o ciclo.

Já nas redes sociais, as críticas ganham alcance, e o julgamento vem rápido e sem filtro. Por isso é tão importante denunciar conteúdos ofensivos, apoiar quem sofre ataques e usar essas plataformas de forma mais consciente.

O slut shaming é mais comum do que você pensa

Você já deve ter presenciado alguma situação de slut shaming, talvez até tenha reproduzido esse comportamento sem perceber. Isso não te torna uma pessoa ruim, mas te dá a chance de mudar.

Essa mudança começa com o reconhecimento e vai até a ação. Cada vez que você interrompe um julgamento, oferece apoio ou escolhe não julgar, você está contribuindo para uma sociedade mais justa e respeitosa.

O caminho é o respeito

No fim das contas, não se trata de defender um estilo de vida específico, mas de garantir que cada pessoa tenha o direito de viver como quiser, sem medo de ser atacada ou diminuída por isso.

A luta contra o slut shaming é também uma luta pela liberdade, dignidade e empatia. E ela só avança quando todo mundo faz sua parte.

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