Se tem uma data que carrega força, resistência e história é o 25 de julho, conhecido como o Dia da Mulher Negra no Brasil. Mais que uma simples lembrança no calendário, essa data representa uma luta que é diária, coletiva e cheia de identidade. É sobre dar nome, dar voz, dar vez. É sobre reconhecer a presença de mulheres negras na construção do Brasil, mesmo que por muito tempo tenham tentado apagá-las da história.

Essa é uma daquelas datas que não foram inventadas por decreto, mas por necessidade. Porque quando a sociedade insiste em calar um grupo, é esse grupo que levanta e faz barulho. E as mulheres negras sempre souberam fazer isso muito bem.

O que é comemorado no Dia da Mulher Negra?

O dia 25 de julho é marcado como o Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. No Brasil, a data também homenageia Tereza de Benguela, uma das maiores líderes negras da nossa história. Ela comandou o Quilombo do Quariterê por mais de 20 anos, resistindo à escravidão e organizando uma verdadeira estrutura política e social.

Aqui, a data se tornou símbolo da força da mulher negra brasileira, mas também um momento de refletir sobre as desigualdades, o racismo e o machismo que ainda impactam a vida dessas mulheres.

Por que essa data é tão importante?

A verdade é que falar sobre mulheres negras é falar sobre um grupo que ainda carrega muitos desafios nas costas. Apesar de serem a maior parte das mulheres no Brasil, elas estão entre as que menos têm acesso à saúde de qualidade, educação de ponta, cargos de liderança, salários justos e respeito nas ruas.

Então o 25 de julho não é só um dia de homenagens. Ele existe pra:

  • Reconhecer o protagonismo das mulheres negras na sociedade
  • Expor desigualdades que ainda não foram resolvidas
  • Fortalecer o movimento de luta antirracista

  • Celebrar referências históricas e atuais

Esse é o tipo de data que não pede presente. Pede consciência.

Quem foi Tereza de Benguela?

Pouca gente aprendeu o nome dela na escola, o que por si só já mostra como o racismo estrutura a nossa história. Mas Tereza de Benguela foi uma mulher extraordinária.

Ela viveu no século XVIII e liderou um dos quilombos mais organizados do Brasil, o Quariterê, localizado onde hoje é o estado do Mato Grosso. Ela assumiu o comando depois da morte do companheiro José Piolho e passou a ser respeitada não só pelo povo negro, mas também por indígenas e por quem ousasse desafiar sua liderança.

Tereza criou um sistema de governo com conselhos, defesa armada e economia baseada na troca e na agricultura. O quilombo foi um exemplo de resistência e liberdade até ser destruído por tropas coloniais.

O que significa ser mulher negra no Brasil hoje?

Ainda hoje, ser mulher negra é conviver com invisibilidade, com julgamentos, com exclusão. Mas também é viver com coragem, criatividade e força ancestral. Não é só dor. É também beleza, inteligência, afeto, talento, autoestima e luta.

Veja algumas realidades que impactam mulheres negras no país:

  • São a maioria entre as vítimas de feminicídio
  • Ganham em média menos que mulheres brancas e homens em geral
  • Enfrentam o racismo estético em todos os espaços
  • Sofrem mais com a precarização do trabalho
  • São sub-representadas na política e em cargos de chefia

Mas mesmo com tudo isso, seguem sendo as que mais empreendem, que mais estudam, que mais resistem.

Como celebrar essa data de forma verdadeira?

Se você quer marcar o 25 de julho de um jeito consciente, mais do que postar uma frase bonita ou mudar a foto de perfil, é importante agir de forma concreta. Aqui vão algumas atitudes possíveis:

Escute mulheres negras

Dê espaço e ouça o que elas têm a dizer. Sobre tudo: sobre política, sobre arte, sobre economia, sobre educação. Muitas já estão falando faz tempo, o problema é que não querem ouvir.

Consuma produtos e conteúdos de mulheres negras

Valorize artistas, escritoras, empreendedoras, criadoras de conteúdo negras. Isso movimenta a economia de forma antirracista e dá visibilidade para quem sempre teve o talento, mas nunca a oportunidade.

Questione o racismo em todos os ambientes

Desde a piadinha racista no grupo da família até a falta de representatividade no seu trabalho. Ser antirracista não é ser “bonzinho”. É ter atitude.

Apoie movimentos e causas

Participe de eventos, palestras, rodas de conversa. Doe para projetos liderados por mulheres negras. Compartilhe ações relevantes.

Nomes de mulheres negras que transformam

Não faltam exemplos de mulheres negras que fazem história todos os dias. Algumas são conhecidas nacionalmente, outras brilham nas suas comunidades. Aqui vão nomes que representam luta, voz e poder:

  • Marielle Franco – ativista e política carioca, assassinada em 2018, virou símbolo global de resistência.
  • Djamila Ribeiro – filósofa e escritora, referência na luta antirracista.
  • Elza Soares – cantora que levou sua voz pro mundo, mesmo enfrentando racismo e machismo por toda a vida.
  • Carolina Maria de Jesus – escritora que transformou sua experiência na favela em literatura consagrada.
  • Conceição Evaristo – intelectual que criou o conceito de “escrevivência”, colocando a vida da mulher negra no centro da literatura.

Essas são só algumas entre milhões.

O racismo também é de gênero

Um ponto que muitas vezes passa batido é que o racismo contra mulheres negras tem um peso diferente. É um racismo interseccional, ou seja, que mistura raça e gênero. A mulher negra sofre tanto por ser mulher quanto por ser negra. Isso afeta desde a infância até a velhice.

Exemplos disso:

  • Meninas negras são mais punidas nas escolas
  • Mulheres negras sofrem mais com mortalidade materna
  • Mulheres negras recebem menos anestesia em partos e procedimentos médicos
  • A imagem da mulher negra ainda é hipersexualizada pela mídia

Entender isso é fundamental pra qualquer mudança social verdadeira.

Educação é ferramenta de combate

Um dos caminhos mais poderosos pra mudar essa realidade é a educação antirracista. Ensinar desde cedo quem foi Tereza de Benguela, quem foi Dandara dos Palmares, quem é a mulher negra da vizinhança. Mostrar que lugar de mulher negra é onde ela quiser, inclusive onde tentam negar.

A escola precisa:

  • Mostrar representatividade nos livros
  • Trazer mais professoras negras
  • Falar de África além da escravidão
  • Combater o racismo com seriedade

Não se trata de “lacração”, mas de justiça histórica.

O futuro que queremos ver

O 25 de julho é importante, mas o mundo que a gente quer não se constrói num dia só. É uma construção que exige paciência, coragem e compromisso. Um Brasil mais justo precisa ouvir, acolher e respeitar suas mulheres negras. Não só lembrando da dor, mas também exaltando a beleza, a inteligência, a capacidade de criar e transformar.

O futuro ideal é aquele onde datas como essa não sejam mais necessárias. Mas até lá, seguimos lembrando, lutando e dizendo em alto e bom som: vidas de mulheres negras importam, sim. E muito.

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