Durante muito tempo, a mulher brasileira foi tratada como figura secundária na sociedade. Invisibilizada, silenciada e sempre colocada em segundo plano. Mas isso começou a mudar com a força de um movimento que cresceu, resistiu e conquistou espaços: o feminismo.

O feminismo no Brasil não é novidade. Ele existe desde o século XIX e vem construindo uma história rica, cheia de enfrentamentos e conquistas que mudaram a vida de milhões de mulheres. Muitas vezes essas vitórias são ignoradas ou tratadas como algo natural, mas cada uma delas foi fruto de muita luta, organização e resistência.
Neste artigo, você vai entender quais foram as principais conquistas do feminismo no Brasil, o que mudou de verdade na vida das mulheres brasileiras e o que ainda precisa avançar. Uma leitura leve, humana e necessária para quem quer conhecer a realidade por trás da palavra “feminismo”.
O início da luta feminista no Brasil
Não dá pra falar das conquistas sem entender de onde tudo começou. O feminismo brasileiro começou a se formar ainda no Império, quando algumas mulheres, principalmente da elite, começaram a reivindicar direito à educação e igualdade no casamento.
Lá por volta de 1850, mulheres como Nísia Floresta já escreviam sobre os direitos das mulheres, mesmo quando isso era malvisto até nos salões mais liberais. Já no século XX, com o crescimento das cidades, o acesso à imprensa e o surgimento de movimentos trabalhistas, o feminismo foi tomando corpo e voz.
As primeiras grandes conquistas
Direito ao voto (1932)
Uma das maiores conquistas feministas no Brasil foi o direito ao voto, garantido em 1932. Antes disso, apenas os homens podiam votar e ser votados.
Foi uma luta liderada por mulheres como Bertha Lutz, que enfrentou o Congresso e a opinião pública para provar que as mulheres eram tão cidadãs quanto os homens.
Esse marco abriu caminho para as mulheres começarem a ocupar espaços na política, mesmo que de forma tímida no início.
Direito à educação formal
Outra vitória que transformou gerações foi a inclusão das mulheres nas universidades. No começo do século XX, era raríssimo ver uma mulher no ensino superior. Com o tempo, graças à pressão feminista, elas foram ocupando cursos e até liderando pesquisas, especialmente nas áreas de humanas e saúde.
Hoje, as mulheres são maioria nas universidades brasileiras, o que mostra como a luta deu frutos.
Avanços nas leis trabalhistas e direitos civis
O movimento feminista também foi essencial para mudanças nas leis trabalhistas e civis. Veja algumas delas:
Igualdade de direitos no casamento
Antigamente, a mulher era considerada incapaz perante a lei. O marido tinha o controle legal de tudo, até do destino dos filhos e da renda da esposa. Foi só em 2002, com o novo Código Civil, que a igualdade entre homem e mulher foi reconhecida oficialmente na vida conjugal.
Hoje, o casal tem direitos iguais sobre a educação dos filhos, sobre bens e sobre as decisões familiares.
Licença maternidade
O direito à licença maternidade remunerada de 120 dias foi uma conquista importantíssima para as mulheres trabalhadoras. Isso garantiu que elas pudessem dar à luz e cuidar dos filhos nos primeiros meses sem perder o emprego ou o salário.
Além disso, empresas com programas de extensão podem oferecer até 180 dias, o que também foi resultado de muita mobilização.
Lei do feminicídio (2015)
Antes da lei do feminicídio, muitas mortes de mulheres eram tratadas como “crimes passionais”, o que escondia a gravidade da violência de gênero. O feminismo pressionou o Estado e, em 2015, o assassinato de mulheres por serem mulheres passou a ser considerado crime hediondo, com pena maior.
Foi uma vitória simbólica e prática, porque reconheceu que o machismo mata.
Conquistas na saúde da mulher
O feminismo também teve papel central na garantia de direitos reprodutivos e à saúde das mulheres, principalmente a partir da década de 1980.
Planejamento familiar
Hoje, toda mulher tem o direito de acessar métodos contraceptivos gratuitamente pelo SUS, escolher quando e se quer ter filhos e buscar informação sobre sexualidade com privacidade.
Direito ao parto humanizado
O debate sobre violência obstétrica e o respeito ao parto humanizado também ganhou força com a atuação de grupos feministas, doulas e profissionais da saúde.
Hoje, o SUS e várias maternidades já têm políticas que garantem o direito da gestante ao acompanhante, liberdade de posição no parto e consentimento informado.
A presença crescente na política
Apesar de ainda ser um espaço dominado por homens, as mulheres estão ocupando mais cargos públicos. Isso não teria sido possível sem a pressão feminista por cotas e incentivo à representatividade.
Hoje, a lei exige que pelo menos 30% das candidaturas de cada partido sejam femininas. Ainda há muito a ser feito, mas é uma conquista importante para romper o ciclo de exclusão política.
A internet e o novo feminismo
Nos últimos 15 anos, a internet permitiu uma nova onda de mobilizações feministas, agora mais jovem, conectada e diversa.
Campanhas como:
- #MeuPrimeiroAssédio
- #EleNão
- #ChegaDeFiuFiu
…ganharam visibilidade nas redes e colocaram a violência sexual, o assédio e a desigualdade salarial em pauta no Brasil inteiro.
Hoje, mesmo quem nunca leu sobre feminismo pode acessar conteúdos, participar de grupos e se engajar por uma causa que afeta diretamente o cotidiano de milhões.
Feminismo interseccional e diversidade
Um avanço importante do feminismo atual é o reconhecimento de que as mulheres não vivem as mesmas realidades. Por isso, surgiu o conceito de feminismo interseccional, que leva em conta questões como:
- Raça
- Classe social
- Identidade de gênero
- Deficiência
- Sexualidade
O movimento hoje abraça mais as mulheres negras, trans, indígenas, periféricas, reconhecendo que suas lutas precisam de visibilidade e ações específicas.
Conquistas culturais e simbólicas
Além das mudanças nas leis e políticas públicas, o feminismo também conquistou espaço na arte, na mídia e no imaginário coletivo. Isso inclui:
- Personagens femininas fortes em novelas e filmes
- Campanhas publicitárias que mostram mulheres reais
- Discussões sobre padrão de beleza, autoestima e corpo livre
Esses avanços ajudam a reeducar a sociedade sobre o papel da mulher, inclusive entre crianças e adolescentes.
O que ainda precisa melhorar?
Apesar de tantas vitórias, a caminhada ainda não acabou. O Brasil ainda enfrenta:
- Altas taxas de feminicídio
- Diferença salarial entre homens e mulheres
- Desigualdade na divisão de tarefas domésticas
- Violência obstétrica e moral
- Sub-representação política
- Falta de políticas públicas para mães solo, negras e trans
Ou seja, o feminismo ainda é urgente e necessário, mesmo que muita gente tente negar isso.
A importância de reconhecer essas conquistas
Muita gente acha que “feminismo já deu o que tinha que dar”, mas esquece que quase tudo que as mulheres têm hoje foi conquistado por meio dessa luta. Desde o direito de estudar até o de não ser assassinada por ser mulher.
É importante valorizar essas vitórias, mas também seguir construindo novas conquistas, porque toda geração merece viver com mais liberdade, segurança e respeito.
