Ao longo da história, a presença das mulheres na política sempre foi desafiada por barreiras culturais, sociais e institucionais. Mesmo em pleno, o espaço que elas ocupam ainda é limitado, desigual e constantemente questionado. Mas o cenário está mudando, aos poucos, com muita resistência, coragem e luta.

Afinal, o que impede mais mulheres de entrarem e se manterem na política? O que acontece com aquelas que decidem se candidatar? Por que, apesar dos avanços, a representatividade feminina ainda está longe do ideal?

Este artigo mergulha nesse tema com uma linguagem direta, acessível e sem rodeios. Vamos entender os números, os obstáculos, os avanços e, claro, os caminhos possíveis para transformar esse quadro.

A política é espaço de homem?

Ainda hoje, existe uma ideia velada de que a política seria “coisa de homem”. Isso vem desde tempos antigos, onde os cargos de poder eram ocupados apenas por figuras masculinas. A mulher era vista como dona de casa, mãe e esposa — nunca como líder, vereadora ou presidente.

Com o tempo, essa imagem foi sendo quebrada, mas não desapareceu completamente. Muitas mulheres que decidem entrar nesse universo se deparam com comentários do tipo:

  • “Isso não é lugar pra você”
  • “Cadê os filhos enquanto você tá fazendo campanha?”
  • “Só ganhou voto porque é bonita”

Ou seja, além de disputar uma eleição, elas têm que disputar respeito.

Números que não mentem

Mesmo com leis e cotas, a presença feminina ainda é pequena. Veja alguns dados que mostram como está a participação das mulheres na política brasileira:

  • Apenas 18% da Câmara dos Deputados é composta por mulheres
  • No Senado, só 15 senadoras ocupam as 81 cadeiras
  • Das 5.570 prefeituras do Brasil, menos de 700 são comandadas por mulheres

  • No Congresso Nacional, nenhuma mulher negra foi eleita senadora até hoje

Esses dados mostram um abismo entre a população brasileira, composta por mais de 51% de mulheres, e a estrutura de poder, que continua dominada por homens brancos, ricos e de idade mais avançada.

O que impede as mulheres de entrarem na política?

A resposta não é simples, mas envolve diversos fatores. Abaixo, alguns dos principais obstáculos enfrentados pelas mulheres:

1. Falta de apoio financeiro

  • Partidos priorizam homens na distribuição do fundo eleitoral
  • Mulheres recebem menos recursos para fazer campanha
  • Dificuldade em conseguir patrocinadores e doações

2. Violência política de gênero

  • Agressões verbais durante debates
  • Ameaças online e presenciais
  • Tentativas de silenciamento em espaços institucionais

3. Dificuldade de conciliar múltiplas jornadas

  • Muitas ainda são as principais cuidadoras da casa e dos filhos
  • Horários e demandas da política não respeitam a realidade feminina

4. Falta de representatividade

  • Poucos modelos femininos de sucesso na política
  • Sensação de que “não é um lugar pra mim”

As cotas funcionam?

Desde 1995 existe uma lei que obriga os partidos a reservarem pelo menos 30% das candidaturas para mulheres. Mas isso não garante que essas candidatas vão ser eleitas, nem que vão receber apoio real.

Muitos partidos só preenchem a cota por obrigação, e às vezes com “candidaturas laranjas”, ou seja, mulheres que entram só pra cumprir tabela e nem fazem campanha.

Além disso, a regra diz respeito apenas à candidatura, não ao tempo de propaganda no rádio e TV, nem ao valor investido em cada uma.

Ou seja: cotas são importantes, mas sozinhas não resolvem. É preciso fiscalizar, investir e fortalecer essas candidaturas.

Mulheres eleitas: como é depois?

Ganhar a eleição é só o começo. Muitas mulheres que chegam ao cargo enfrentam resistência, boicote e desrespeito no exercício da função.

Algumas situações comuns:

  • Homens não deixarem a fala ser concluída
  • Piadas sobre a aparência ou forma de se vestir
  • Falta de espaço nas decisões importantes
  • Desvalorização das pautas propostas

Mesmo assim, muitas continuam firmes, fazendo história e abrindo caminho para outras.

Por que precisamos de mais mulheres na política?

Não se trata de “favor” ou “inclusão forçada”. A presença feminina é fundamental para uma democracia de verdade. Quando as mulheres participam das decisões, a política:

  • Ganha novas perspectivas
  • Prioriza pautas como educação, saúde e igualdade
  • Representa melhor a diversidade da população
  • Se torna mais ética e transparente

Mulheres costumam legislar mais sobre direitos humanos, segurança para mulheres, saúde pública e justiça social. Ou seja, todo mundo ganha com mais mulheres no poder.

Exemplos de liderança feminina que inspiram

Apesar de serem minoria, várias mulheres marcaram presença com firmeza e coragem:

  • Benedita da Silva: primeira mulher negra a assumir o governo do Rio de Janeiro
  • Erundina: ex-prefeita de São Paulo, referência na esquerda brasileira
  • Manuela D’Ávila: ativista feminista e candidata à vice-presidência
  • Tabata Amaral: jovem deputada que trouxe debates sobre educação e juventude
  • Dandara Tonantzin: deputada negra que levanta pautas antirracistas e sociais

Elas são prova viva de que mulher pode, sim, ocupar qualquer espaço.

Como aumentar a participação feminina?

Essa transformação não acontece sozinha. Ela depende de ações políticas, sociais e culturais. Abaixo, algumas estratégias:

1. Investir em formação política para mulheres

  • Cursos, debates, mentorias e encontros
  • Estimular mulheres desde jovens

2. Fortalecer redes de apoio

  • Grupos de apoio entre mulheres candidatas
  • Equipes técnicas femininas
  • Apoio psicológico e jurídico para enfrentar ataques

3. Cobrar partidos e órgãos públicos

  • Transparência no uso do fundo eleitoral feminino
  • Respeito às cotas e fiscalização contra fraudes
  • Paridade nas instâncias de decisão dos partidos

4. Combater a violência política de gênero

  • Denunciar casos de machismo institucional
  • Criar leis mais rígidas para punir agressores
  • Proteger candidatas e eleitas com suporte real

O papel da sociedade nessa mudança

Cada pessoa tem um papel importante nessa virada. Não adianta esperar só dos políticos. Veja o que você também pode fazer:

  • Vote em mulheres comprometidas com as causas femininas

  • Apoie campanhas feitas por mulheres, principalmente negras, indígenas e LGBTQIA+

  • Denuncie falas e atitudes machistas durante eleições

  • Converse com outras pessoas sobre a importância da representatividade

Mudar a política começa com pequenos gestos, e se multiplica quando a gente entende que lugar de mulher é onde ela quiser — inclusive no Congresso, na prefeitura, no Senado ou no Palácio do Planalto.

A participação feminina na política é urgente

Não é exagero dizer que a democracia brasileira precisa das mulheres. Elas trazem olhares diferentes, mais humanos, mais conectados com a realidade da maioria. O problema é que a estrutura atual não facilita, não acolhe e muitas vezes não permite.

Mas isso está mudando. Devagar, com luta, com resistência. Com mulheres se apoiando, estudando, se organizando e se lançando. E cada voto que a gente dá pra uma mulher preparada é um passo a mais pra transformar o país.

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