Durante muito tempo, falar sobre gênero era limitado a uma simples caixinha: homem ou mulher. Mas com o passar dos anos, essa conversa foi se expandindo, ganhando novas camadas e mostrando que a realidade vai muito além do que fomos ensinados. Hoje em dia, entender o conceito de gênero é essencial para conviver de forma mais justa e respeitosa com o outro — e até consigo mesmo.

Nem todo mundo se identifica com o que foi determinado no nascimento. Algumas pessoas se descobrem ao longo do tempo e percebem que o seu gênero não corresponde ao que a sociedade esperava. E tá tudo bem. O que não tá é continuar tratando esse tema com ignorância ou preconceito.
Neste artigo, vamos explicar de forma simples e clara o que é gênero, quais são os principais tipos de identidade de gênero reconhecidos atualmente, por que é importante respeitar cada um deles e como isso impacta o nosso cotidiano.
O que significa gênero?
Gênero é uma construção social que define expectativas, papéis e comportamentos associados ao ser homem, mulher ou outras identidades.
Ao contrário do sexo biológico — que se refere a características físicas como genitais e cromossomos — o gênero é algo mais subjetivo, ligado a como a pessoa se percebe internamente e se expressa no mundo.
Isso quer dizer que gênero não é uma coisa fixa e universal. Ele pode variar conforme a cultura, a época e, principalmente, a vivência de cada indivíduo.
Qual a diferença entre sexo e gênero?
É comum as pessoas confundirem os dois conceitos, mas eles não são a mesma coisa. Vamos entender isso de forma prática:
| Termo | Significado |
| Sexo | Características biológicas: genitais, hormônios, etc. |
| Gênero | Identidade pessoal e construção social/cultural |
| Identidade de gênero | Como a pessoa se identifica (homem, mulher, não binárie…) |
| Expressão de gênero | Como a pessoa demonstra isso (roupas, jeito de falar, etc.) |
Por exemplo, uma pessoa que nasceu com vagina e foi registrada como mulher ao nascer, mas se identifica como homem, pode fazer a transição para alinhar sua identidade de gênero ao que ela sente de verdade.
Quais são os principais tipos de gênero?
Hoje existem várias formas de se identificar. E isso não é uma “moda”, como muita gente insiste em dizer. É o reflexo de um mundo que está aprendendo a aceitar a diversidade. A seguir, conheça os principais tipos de gênero:
1. Cisgênero
É quem se identifica com o gênero atribuído ao nascer. Exemplo: nasceu com pênis, foi registrado como menino e se sente homem.
2. Transgênero
É quem não se identifica com o gênero que lhe foi designado ao nascimento. Isso inclui:
- Homens trans (pessoas que foram designadas mulheres ao nascer, mas se identificam como homens)
- Mulheres trans (designadas homens, mas se identificam como mulheres)
3. Não-binárie
Pessoas que não se sentem exclusivamente homem ou mulher. Elas podem se identificar com ambos, com nenhum ou com uma identidade que flutua.
Exemplos de variações não-binárias:
- Gênero fluido: muda com o tempo
- Agênero: não sente identificação com nenhum gênero
- Bigênero: sente-se homem e mulher ao mesmo tempo
4. Travesti
É uma identidade presente principalmente na América Latina. Travestis geralmente se expressam no feminino, muitas vezes com características femininas, mas não se veem necessariamente como mulheres cisgênero. É uma identidade forte, política e cultural.
5. Intergênero
É quem se identifica com uma mistura ou algo entre os gêneros binários, mas que não se encaixa em apenas um conceito definido.
E orientação sexual, tem a ver com gênero?
Essa é outra dúvida comum. E a resposta é não. Gênero e orientação sexual são coisas diferentes.
Enquanto o gênero fala de quem você é, a orientação sexual diz por quem você sente atração. Ou seja, uma pessoa trans pode ser hétero, bi, gay ou qualquer outra orientação.
Evitar confundir esses conceitos é fundamental para respeitar as escolhas e vivências alheias.
Por que existem tantos tipos de gênero hoje?
Porque finalmente estamos ouvindo as pessoas.
Durante séculos, muita gente teve que esconder quem era, por medo, repressão ou falta de conhecimento. Com o avanço das discussões sobre identidade, gênero e diversidade, mais pessoas se sentem seguras para dizer: “eu não me encaixo nessa norma”.
O reconhecimento de múltiplas identidades não é invenção da geração atual. Em diversas culturas antigas já existiam conceitos parecidos:
- Os “dois espíritos” entre povos indígenas da América do Norte
- As hijras na Índia
- Os fa’afafine em Samoa
O que acontece hoje é que, com mais acesso à informação, esses grupos ganham visibilidade, e o vocabulário se amplia.
A importância de respeitar o gênero de cada pessoa
O simples ato de respeitar o nome e o pronome de alguém pode mudar a vida dessa pessoa. Quando você trata alguém com respeito, está reconhecendo sua existência, sua história e sua humanidade.
O desrespeito, por outro lado, pode gerar consequências graves:
- Isolamento
- Ansiedade e depressão
- Aumento do risco de suicídio
- Exclusão do mercado de trabalho
- Violência verbal e física
Não custa nada perguntar qual pronome a pessoa prefere. E mesmo se você errar, peça desculpas com humildade e corrija. O importante é demonstrar respeito e disposição pra aprender.
Dicas para lidar com o tema com mais empatia
Se você ainda se sente confuso ou acha difícil lidar com essas mudanças, tudo bem. O importante é estar aberto para aprender. Algumas atitudes simples já fazem diferença:
- Evite fazer piadas com identidade de gênero
- Não pressione alguém a “se definir”
- Pergunte o pronome da pessoa com educação
- Use a linguagem neutra em ambientes diversos (ex: “olá a todes”)
- Leia, escute e aprenda com pessoas LGBTQIAPN+
Ninguém precisa entender tudo de imediato. Mas respeitar é o mínimo.
O que diz a ciência e os direitos humanos?
Diversos estudos e organizações internacionais, como a ONU e a OMS, reconhecem que o gênero é uma experiência humana complexa, que não pode ser reduzida apenas ao biológico.
A OMS retirou em 2018 a transexualidade da lista de doenças mentais, reconhecendo que ser trans não é um problema médico, mas sim uma variação natural da identidade humana.
Já no Brasil, o STF reconheceu o direito à retificação de nome e gênero no registro civil sem necessidade de cirurgia ou laudo médico, o que foi uma grande conquista para a dignidade da população trans.
Gênero nas escolas: por que é tão polêmico?
Muito se fala sobre o ensino de gênero nas escolas, mas há muita desinformação nesse debate. Ensinar sobre gênero não é incentivar crianças a mudarem de sexo, como dizem os boatos. É apenas mostrar que existem diferentes formas de ser e viver, e que todas merecem respeito.
Quando uma criança aprende desde cedo a lidar com a diversidade, ela se torna um adulto mais empático e menos violento. Ignorar esse tema só reforça o preconceito e o bullying.
Gênero é sobre liberdade de ser
No fim das contas, o que está em jogo é o direito de cada pessoa viver a própria verdade sem medo. Não importa se você se identifica com o que foi designado ao nascer ou se descobriu uma nova forma de existir: o importante é ser respeitado.
Gênero não é uma caixinha fixa, não é uma sentença de nascimento. É algo fluido, mutável e único. E reconhecer isso é caminhar rumo a um mundo com menos julgamento e mais acolhimento.
