Num país onde a desigualdade de gênero ainda é uma ferida aberta, é surpreendente descobrir que, em algumas áreas, as mulheres conseguem ganhar mais que os homens. Apesar dos obstáculos históricos, elas vêm se destacando em determinadas profissões, seja por habilidades específicas, maior qualificação, ou uma presença mais consolidada no mercado.
Essa inversão salarial ainda é minoria no panorama geral, mas já acende um alerta positivo: há caminhos em que o protagonismo feminino vai além da presença — ele chega até à valorização financeira.
A realidade do mercado de trabalho para mulheres no Brasil
Antes de conhecer as profissões, é importante entender o cenário. Dados do IBGE mostram que, em média, mulheres ainda recebem cerca de 78% do salário dos homens. No entanto, esse número pode variar bastante de acordo com a profissão, o setor e o nível de escolaridade.
Segundo o Cadastro Central de Empresas (CEMPRE) e a Pnad Contínua, algumas ocupações mostram um ganho médio mensal superior para as mulheres. Isso não significa necessariamente que há igualdade — muitas vezes, essas exceções ocorrem por razões específicas, como maior escolaridade das mulheres na área ou concentração em cargos de maior responsabilidade.
1. Profissionais de estética e beleza
O setor da beleza é dominado por mulheres, que além de maioria, também são referência em inovação e técnica. Cabeleireiras, maquiadoras, designers de sobrancelha e esteticistas frequentemente ganham mais que os homens na mesma área.
Fatores que explicam essa vantagem:
- Maior procura por profissionais mulheres
- Confiança do público feminino na atuação de outras mulheres
- Mulheres empreendem mais no setor
Segundo o Sebrae, 80% dos microempreendedores do setor de beleza são mulheres, muitas delas com faturamento acima da média masculina.
2. Enfermagem
Na enfermagem, as mulheres são maioria e costumam ocupar funções técnicas e de coordenação. Por estarem mais presentes em jornadas completas e com mais tempo de atuação, os salários médios tendem a ser mais altos entre elas.
Além disso, muitas assumem cargos de liderança em unidades de saúde, o que contribui para o aumento da média salarial.
3. Psicologia
A psicologia é outra área onde as mulheres dominam. Segundo o Conselho Federal de Psicologia, mais de 80% dos psicólogos do país são do sexo feminino. Como há uma maior proporção de mulheres com pós-graduação e clínicas próprias, isso se reflete em ganhos maiores.
Essa vantagem aparece principalmente entre as profissionais que atuam em consultórios particulares e não dependem de vínculos com empresas ou instituições.
4. Nutrição
Na área de nutrição, as mulheres também são maioria. E mais: elas ganham, em média, mais que os homens. Um dos motivos é a forma como constroem autoridade em nichos específicos, como nutrição esportiva, estética ou funcional, que têm maior ticket médio de atendimento.
Outro fator é que muitas nutricionistas atuam de forma autônoma, criando seus próprios métodos, marcas e atendimentos online.
5. Recursos Humanos
No setor de RH, as mulheres costumam ocupar mais posições de liderança. E, ao contrário de outras áreas, os cargos de gerência ou diretoria de RH têm forte presença feminina, com salários competitivos e acima da média nacional.
O motivo? Muitas empresas reconhecem a sensibilidade, organização e visão estratégica feminina como diferenciais para cuidar de pessoas e processos internos.
6. Educação infantil e pedagogia
Embora o salário-base da categoria ainda esteja longe do ideal, nas redes privadas e em cargos de coordenação pedagógica, as mulheres recebem mais que os homens. Isso porque são maioria nos cargos e se qualificam mais frequentemente com especializações, mestrados e atualizações.
Além disso, instituições educacionais particulares tendem a preferir profissionais com mais tempo de atuação e maior didática — duas características presentes na trajetória feminina.
7. Relações públicas
Na área de comunicação, o setor de Relações Públicas é um destaque. Em cargos de gestão e atuação com grandes marcas, as mulheres vêm liderando projetos e ganhando destaque nacional, com remuneração superior à dos colegas homens.
Esse cenário é impulsionado pela capacidade de relacionamento, empatia, domínio da linguagem e criatividade — qualidades percebidas com frequência no perfil feminino.
8. Moda
Não é surpresa que a moda seja um espaço onde as mulheres brilham. Porém, o que chama atenção é o ganho médio superior ao dos homens. Estilistas, produtoras de moda feminina e consultoras de imagem do sexo feminino não apenas lideram o mercado, como também conseguem valorizar mais seu trabalho, especialmente no atendimento personalizado e em branding pessoal.
9. Fonoaudiologia
Profissão com maioria esmagadora de mulheres, a fonoaudiologia tem apresentado um diferencial no rendimento mensal das profissionais femininas. Isso se deve, em parte, à busca por especializações e atuação em consultórios próprios.
Além disso, muitas fonoaudiólogas trabalham com pacientes particulares e planos de saúde premium, o que eleva o valor dos atendimentos.
10. Assistência social
Outra área historicamente feminina, o serviço social mostra uma diferença salarial positiva para mulheres que estão em cargos públicos ou exercem funções técnicas de coordenação.
Há também uma valorização maior das profissionais com experiência em políticas públicas, ONGs e projetos sociais de médio e grande porte.
11. Terapias alternativas
Profissionais que atuam com terapias como Reiki, aromaterapia, constelação familiar e outras técnicas holísticas são, na maioria, mulheres. A procura por atendimento feminino é maior, e isso influencia diretamente na precificação dos serviços.
Muitas terapeutas conseguem trabalhar com agenda cheia e preços acima da média, especialmente quando unem marketing pessoal com formação constante.
12. Empreendedorismo digital
Na era digital, muitas mulheres estão se destacando como produtoras de conteúdo, coaches, influenciadoras ou donas de infoprodutos. E é nesse nicho que algumas ultrapassam — e muito — a média de rendimento dos homens.
Segundo dados do Sebrae e do Instituto Rede Mulher Empreendedora, mais de 30% das mulheres que empreendem online têm rendimento superior a R$ 5.000 por mês, sendo que parte significativa fatura acima de R$ 10.000 mensais com cursos, mentorias e produtos próprios.
Exemplos de atuação digital:
- Vendas por redes sociais
- Lançamentos de cursos online
- Consultorias individuais por videoconferência
- Marketing de afiliados
Por que essas profissões têm essa diferença?
A inversão salarial nesses casos não é aleatória. Ela é resultado de uma combinação de fatores:
- Presença dominante das mulheres nessas áreas
- Maior dedicação à capacitação e formação contínua
- Perfil comportamental alinhado com as exigências da profissão
- Empreendedorismo e atuação autônoma, o que evita barreiras salariais
Além disso, muitas mulheres atuam em nichos onde o atendimento é mais valorizado quando feito por profissionais do mesmo gênero, como nas áreas da saúde, estética e desenvolvimento pessoal.
O que os dados revelam?
Segundo o IBGE e cruzamentos feitos com a RAIS e a Pnad Contínua, o Brasil tem mais de 9 milhões de mulheres empreendedoras. Em vários setores onde o trabalho é autônomo ou informal, elas conseguem gerar mais receita mensal que os homens, ainda que isso não seja refletido nos dados oficiais de CLT.
O crescimento das redes sociais, plataformas de cursos e demanda por atendimento personalizado ajudou a reforçar esse movimento de valorização.
Caminho ainda é longo, mas os sinais são bons
Apesar dessas conquistas pontuais, ainda há muito a se avançar em relação à equidade de gênero no Brasil. As profissões onde a mulher ganha mais que o homem representam uma minoria. Mas servem como sinal de que, com esforço, capacitação e posicionamento, é possível reverter cenários injustos.
As novas gerações estão mais conscientes, as empresas estão revendo seus padrões, e a sociedade começa a valorizar mais o papel feminino no mundo dos negócios e nas relações profissionais.
O futuro ainda não é ideal, mas ele pode sim ser mais equilibrado — e os exemplos dessas 12 profissões mostram que isso não é só um desejo, mas uma realidade em construção.